A posição política dos seus colegas importa?

Não de forma absoluta.
Sim de forma relativa.
Lidar com a diversidade de pensamentos é um PRIVILÉGIO entre pares. Explico.

3 Tipos de Relação

Enxergo três formas de relação.

  • Relação pai/filho (superior/subordinado);
  • Relação irmão/irmão (colegas, pares, mais ou menos distantes);
  • Relação filho/pai (subordinado/superior).

Cada uma destas relações tem uma dinâmica própria de trabalho e de desafios. A posição política (visão de mundo e de futuro) de um superior, quando muito divergente da nossa, pode ser danosa em começo de carreira.

Mas o mesmo não é verdadeiro quando lidamos com pares.

O problema é o desequilíbrio da relação

Quando um superior tem uma opinião divergente, especialmente quando ele ou ela expressa essa visão em público, como em um almoço da empresa, como alguém pode questioná-lo sem gerar um clima razoavelmente tenso?

Como a liderança tem o poder de demitir, de dar aumento, de decidir algo que nos impacta, o instinto natura é de preservação.

Um espaço de desenvolvimento mental

Trabalho não é família. Trabalho é um lugar onde colaboramos com outras pessoas para construir algo.

No mundo digital (meu mundo) a colaboração é extremamente intensa no nível das ideias.

E as ideias para se desenvolverem precisam circular, precisam de movimento, precisam unir-se a outras, procriar, mudar.

O desenvolvimento mental ocorre por meio do diálogo, de processos contínuos de análise e síntese.

Entre pares você pode discordar de qualquer coisa, eles ou elas não tem poder sobre seu futuro. Você não é obrigado a almoçar com ninguém, a fazer uma reunião particular com ninguém.

Esta liberdade proporciona aprendizados. E estar aberto, ESPECIALMENTE na fase da vida dos 20 anos é muito importante para coletar na diversidade de visões os fragmentos com os quais iremos compor nossa própria síntese da vida.

Você pode sentir raiva de um colega

Quando irmãos brigam, discutem, não se supõe que não haja respeito ou até amor. Quando colegas de trabalho divergem, isso não significa que não serão capazes de fazer um grande trabalho juntos. Há liberdade entre os pares para o conflito.

Eu já tive colegas de trabalho com valores muito diferentes dos meus, com posicionamentos políticos, culturais e sexuais muito diferentes e conflitantes. É divertido. A vida é muito rica e as histórias que emergem dessa diversidade são maravilhosas.

Os conflitos vão acontecer também, mas entre pares, quando um NÃO tem poder sobre o outro, o conflito tem espaço para evoluir para um aprendizado sem medos e geralmente as pessoas tem maturidade o bastante, mesmo jovens, para seguir o trabalho com algum nível de frieza.

Ninguém tem que amar ninguém para as coisas funcionarem.

O que importa é o que converge

Em uma equipe com certa paridade, o que faz diferença é ter um ponto que una a todos, como a construção de um produto digital ou a prestação de um serviço.

Esse ponto de convergência de pensamento no qual cada um ocupa o seu espaço para formar um todo é muito superior às divergências culturais e de visão de mundo.

Ao existir uma meta que motive a todos e áreas de interesse que conectem as intenções e projetos de futuro, o trabalho pode ocorrer.

O interesse mental em comum não vai evitar os conflitos de ideias e visões de mundo. Haverão desgostos, como há em qualquer agrupamento humano. O que posso dizer é que tudo indica que a tolerância mental, entre pares, é um sinal de saúde emocional.

Então, importa a posição política dos meus colegas?

Para a realização do trabalho, não, não importa. O que importa é ver se há algo maior que converge o diálogo, as interações, o pensamento e a produção.

Para a vida pessoal, sim, importa muito, e em dois sentidos. Importa porque é especialmente saudável aos 20 e poucos anos conhecer visões de mundo diferentes, embora divergentes. E importa porque talvez você prefira não aprofundar relações com alguns grupos e pessoas. Você não irá almoçar nem irá ao happy hour com todos e tem todo o direito de avisar seus líderes que prefere não viajar ou trabalhar com um ou outro indivíduo.

Então, pessoalmente, claro que importa. Mas insisto na ideia de que é saudável ter abertura e respeito com o que parece estranho e errado em termos de OPINIÃO, de PENSAMENTO.

Observação: Nada do que disse aqui se aplica para situações de desrespeito dos outros, agressão ou abuso. Falo aqui exclusivamente de IDEIAS e FORMAS DE PENSAR.

No mais, o meu ideal é que entre pares prevaleça o foco técnico/criativo/produtivo em comum e que a partir dessa conexão, todos possam desfrutar, por algum tempo, da experiência de trabalhar e conviver em um time onde o pensar é livre.

Conversar?